O craque do Santos mistura ousadia e deboche numa explosiva mistura. Tudo funciona quando as coisas vão bem. Mas e quando começam a dar errado? Isso seria um retrato do comportamento da Geração Y?
Por Rodolfo Araújo
O assunto da semana foi a birra de Neymar que, depois de ser preterido na cobrança de um pênalti, fez malcriação dentro e fora de campo. Desacatou seu técnico e desrespeitou seus colegas. Agiu como uma criança mimada de quem foi tirado um privilégio que não merece mais.
Antes mesmo de deixar a adolescência, o santista recebe tratamento de supercraque com salário idem. Vive as delícias de ser um astro, mas recusa-se a encarar suas dores. Gosta da fama e da fortuna, mas evita as responsabilidades. Quer ser tratado como adulto, mas sem a obrigação de comportar-se como tal.Neymar representa, por esta descrição, o típico jovem da geração Y.
Assim como muitos da sua idade, Neymar rejeita autoridades e despreza hierarquias. Rebelou-se contra uma ordem de seu superior, sem qualquer razão para isso. Ele não estava batendo pênaltis bem, simplesmente porque não levava isso a sério.
Zidane – exemplo para Neymar – em seus últimos lances em Copa do Mundo
Quando bateu com cavadinha na mão do goleiro, deveria ter aprendido. Mas não aprendeu. Disse que Zidane fizera o mesmo na Copa. Verdade. Fez isso minutos antes de dar uma cabeçada em Materazzi e receber cartão vermelho no jogo mais importante do futebol mundial, encerrando melancolicamente sua carreira.
A jovem promessa do Santos, aliás, não é reconhecida por adotar bons ídolos nem modelos. Como Robinho, por exemplo, que não deveria ser espelho para ninguém*. O que muitos chamam de irreverência e descontração, vejo como deboche e narcisismo. Considero suas dancinhas comemorativas extremamente desrespeitosas e provocativas. São jogadores de futebol, não animadores de torcidas.
Em duas ocasiões Neymar deu chapéus em adversários com a bola parada. Adversários que não estão esperando dribles. Dribles que não armam jogadas de ataque nem deixam ninguém mais perto do gol adversário. Para que servem, então? Para humilhar o adversário. Cavadinha e paradinha também servem para humilhar o goleiro – além de representar um pulo fácil na lista de artilheiros.
No mesmo jogo, atletas do Avaí acusaram-no de provocações comparando seu salário com os do clube do Sul. Outra humilhação. Rodadas adiante, brigas com jogadores do Ceará. E agora esse fiasco com seu próprio técnico e demais companheiros.
Neymar e Robinho fazendo cara de bobo sem nenhum esforço Imediatamente o Santos impôs-lhe uma multa de 30% do seu salário a qual, diga-se, não fará nenhuma diferença para ele.
O forçado pedido de desculpas foi muito mais um evento de Relações Públicas do que o reconhecimento de um erro. A mídia interpretou o pedido de desculpas de Neymar como “constrangido”. Mas a bem da verdade ele estava contrariado, porque não achava que devia desculpas a quem quer que fosse.
Juntando os dois, Neymar e Robinho, temos o retrato de uma geração que já quer tomar conta do mundo. Dois moleques que exigem seus direitos sem se preocupar com seus deveres.
Independentemente da letra da sua geração, você só tem direito a alguma coisa nesta vida depois que provar o seu valor. Repetidamente. Antes disso você é apenas mais um. Pode ter muito talento e uma série de habilidades inatas. Mas isso não faz de você um fora-de-série.
Até lá você precisará comer muito feijão com arroz e ser muito, mas muito mais humilde.
Para que os demais Y não fiquem revoltados comigo, admito que há exceções. No futebol, por exemplo, Paulo Henrique Ganso, companheiro de Neymar no Santos é um exemplo. Ganso (como Diego) quer botar a bola pra dentro do gol e ir para casa, ao contrário de Neymar (e Robinho). Sorte sua estar machucado e não ter tido o desprazer de participar desta palhaçada.
No mais, essa geração Y ainda vai tomar muito na cabeça antes de aprender alguns valores que seus pais não lhe ensinaram.
* Mesmo se achando o melhor jogador do mundo, ele não conseguiu se firmar na Europa – e isso é sintomático. Quando surgiu no Santos tinha a companhia de Diego, de futebol muito mais objetivo e decisivo, mas igualmente destrambelhado (conseguiu a proeza de ser expulso numa disputa de pênaltis). Juntos, Robinho e Diego protagonizaram o lamentável episódio em que um arriou as calças do outro durante uma entrevista coletiva, na frente dos fotógrafos, na fracassada campanha da seleção pré-olímpica que sequer se classificou para os Jogos de 2004.
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