Por Vânia Faria
Falar de espiritualidade no âmbito organizacional ainda gera muito preconceito, distanciamento e medo nas pessoas. Você sabe explicar porque isso acontece?
Quando entrei em contato com as teorias e ensinamentos de Richard Barrett – na minha opinião, um dos mais expressivos consultores organizacionais da atualidade – sobre as questões de espiritualidade nas organizações, fiquei feliz e preocupada ao mesmo tempo. Feliz por saber que existem formas de ampliar a espiritualidade em uma empresa e até mesmo de mensurar o quão espiritual ela é. Preocupada fiquei ao pensar como eu levaria esses conceitos para as empresas brasileiras a partir daquela ampliação de consciência que eu estava tendo ao reconhecer as dimensões abordadas por Barrett em toda a sua obra.
Porém, imediatamente abracei a causa com paixão e vontade de realmente começar a disseminar tudo aquilo que aprendi, nas empresas por onde eu fosse passando através do meu trabalho de consultora organizacional. Confesso que no início tive medo e bastante cautela. Pensei: “Isto é um trabalho para missionários!” – Então eu teria que me tornar uma missionária? Bem, meu coração dizia que eu teria que seguir adiante com aquela missão. Era mesmo um chamado!
Não dava para negar a existência de possibilidades de fazer um trabalho diferenciado nas empresas no quesito desenvolvimento humano e organizacional e elevação de consciência. Aqueles conceitos faziam tanto sentido para mim que saí de fato engajada e empenhada a trabalhar com estas questões que certamente gerariam resultados sustentáveis e diferenciados para as empresas e pessoas que nelas trabalham. E assim foi e assim é até hoje. Sempre que tenho oportunidade apresento estes conceitos para os líderes das organizações. É claro que às vezes sou barrada ou ignorada logo no início do meu discurso. Porém não deixo de tentar. Prefiro levar um não para casa, do que deixar de tentar.
Mas como uma empresa pode se tornar espiritualizada?
Espiritualidade nas empresas não tem a ver com religião, igreja, dogmas ou ideologias.Trata apenas da elevação dos “valores organizacionais”. Nada mais do que isso. Assim desmistificamos os primeiros mitos quando se fala deste assunto.
Para Richard Barrett, valores organizacionais são classificados em 7 níveis. Quanto mais altos os valores de uma organização, mais espiritualizada ela é. Veja como é esta classificação dos 7 níveis na imagem abaixo:
Se uma empresa possui muitos valores organizacionais nos três níveis inferiores, podemos dizer que esta empresa está muito focada em atender as necessidades básicas, dela própria e de seus funcionários. E se nesses valores vividos na empresa encontramos limitações como “controle, excesso de horas de trabalho, foco de curto prazo, burocracia, autoritarismo, complacência, corrupção e manipulação ”, podemos afirmar que esta empresa possui uma cultura focada no curto prazo. Então o medo é um sentimento constante das pessoas que nela trabalham.
Já as empresas que possuem valores organizacionais distribuídos nos quatro níveis superiores, podemos dizer que são empresas que possuem altos níveis de espiritualidade. Do nível quatro para o nível sete não existem valores limitantes e portanto, não existe medo e sim amor instalado na cultura organizacional. Quando o medo deixa de existir, as pessoas trafegam numa freqüência mais leve, amistosa, as relações interpessoais são muito valorizadas e as pessoas se sentem felizes trabalhando para esta empresa.
Porém, uma empresa que possui apenas valores “elevados”, ou seja, de nível quatro para o nível sete, pode não estar conectada à realidade do mundo capitalista, que é tão focado em resultados, e onde o sucesso de uma empresa é determinado pelos números positivos ao final de cada período. Por isso, essas questões ainda parecem um tanto utópicas…
Então a indicação consultiva é que as empresas elevem seus níveis de espiritualidade, mas mantenham, também valores de sustentações saudáveis nos níveis um, dois e três. Aí teremos uma empresa com o que chamamos de “Cultura Organizacional de Espectro Total”. A empresa estará preocupada em gerar sustentação em todas as cadeias de valores, cuidando da saúde integral de seus colaboradores, geração de negócios sustentáveis, rentabilidade do ponto de vista financeiro, e consequentemente estará assegurando sua longevidade – deixando um legado para as futuras gerações.
A eliminação de valores limitantes é o passo inicial para se começar a espiritualização de uma empresa. Já a elevação dos valores organizacionais deve ser uma meta contínua. Não acontece de um dia para outro. Todos os dias a liderança deve dar um passo a frente neste sentido. É tarefa da liderança fazer esta transição. Levar a empresa do medo ao amor, do nível mundano para o espiritual, da incerteza para a longevidade.
O que acontece no clima e cultura organizacional de uma empresa que eleva seu nível de espiritualidade?
Harmonia, colaboradores satisfeitos, clima muito bom, turn over em níveis aceitáveis, alto engajamento, pessoas apaixonadas por seu trabalho e pela empresa, alegria, relações interpessoais recheadas de colaboração, cortesia, gentileza e pessoas talentosas que jamais pensam em deixar suas funções. Retenção de talentos deixa de ser uma prioridade de Recursos Humanos – eles dificilmente vão embora. É mesmo uma“transformação milagrosa” que acontece na empresa.
Pré-requisitos para começar o processo de espiritualidade em uma empresa
Não existem! Todas podem começar imediatamente, desde que a liderança esteja pronta e consciente. E isto vale para empresas de qualquer porte (pequena, média ou grande), que podem estar instaladas em grandes centros urbanos ou no meio de uma mata no interior do país.
Algumas conclusões
Não importa onde a empresa esteja ou como ela é. O fato é que em empresas espiritualizadas veremos “colaboradores” no sentido literal da palavra. As pessoas deixam de ser empregados e passam a ser vistas como o bem mais precioso da organização (o capital humano), pois afinal, os valores organizacionais são definidos pelo conjunto de valores de seus funcionários, e não o contrário.
As estatísticas mostram que isto é uma realidade. Hoje já são mais 1200 empresas mundo afora que podem contar sobre suas trajetórias para o caminho do sucesso através da elevação da espiritualidade.
Otimista que sou, espero em poucos anos dar a notícia aqui para vocês de que no Brasil também alcançamos o número de 1000 empresas com altos níveis de espiritualidade.
E vamos seguindo com nossa missão!
Sobre Richard Barrett: é Diretor Geral do Richard Barrett & Associados – uma consultoria em Transformação Cultural e Desenvolvimento da Liderança. Ele é o criador das Ferramentas de Transformação Cultural. Autor, palestrante e agente de mudança. Seu site: http://www.valuescentre.com/ – Livros publicados em português: “Libertando a Alma da Empresa” e “Criando uma Organização dirigida por Valores”.
Sobre Vânia Faria: é consultora em desenvolvimento Humano e Organizacional. Atua como coach de executivos e de carreira, realiza diagnósticos consultivos, gerência e lidera projetos de cultura organizacional utilizando o Método Barrett, e é Diretora Executiva da Evolução Humana Consultoria.