Não existe mais o conhecimento perene, guardado a sete chaves, restrito às “lides acadêmicas“.
O grande problema no ensino de hoje, e do aluno de hoje, é que o conhecimento humano está dobrando a cada 6 meses.
Seguindo esse raciocínio, dois anos depois de formados, entre 60% e 80% de tudo o que vocês aprenderam estará obsoleto, dependendo da profissão.
Isso se seus professores ensinarem o que há de mais novo em sua especialidade, o que nem sempre acontecerá.
Estudantes hoje encontram três tipos de professores.
Os ultraconservadores, que ainda ensinam “conhecimentos” de 1880. Coisas de Adam Smith, Aristósteles, Platão, Karl Marx, as Leis de Mendel.
Na realidade, são dogmas de um mundo que não existe mais.
Muito poucos professores que se definem como Neoliberais, Neomarxistas, Neofreudianos ou Neo alguma coisa.
Neo significa novo.
No fundo, não são progressistas como dizem, mas ultraconservadores.
Acham que o mundo não mudou ou então pararam no tempo, como todo conservador.
Outro grupo de professores é o dos enganadores, aqueles que não se atualizam e dão aulas mesmo assim.
Não se reciclam há anos, ensinam o que era novo dez anos atrás.
Ou, pior, ensinam as mesmas coisas que eles próprios aprenderam quando estudavam.
Se tiverem sorte, mas muita sorte, vocês encontrarão um pequeno grupo de professores criativos e visionários, que criam e mostram como será o mundo de amanhã. Estes normalmente estão em cursos on line, porque são modernos.
São eles que vão inspirá-los a tentar fazer o que ninguém fez antes, são eles também que inspiraram quase todos os jovens que inventaram esses sites na internet. São estes que inspiraram Larry Page, Sergey Brin, Jeff Bezos.
O que muitos de seus professores ainda não perceberam é que o conceito de conhecimento humano mudou.
Não existe mais o conhecimento perene, guardado a sete chaves, restrito às “lides acadêmicas”.
As universidades não são mais as “casas do saber”, as “catedrais do conhecimento”, como muitas se autodefinem.
Hoje, o conhecimento humano é de curta duração, poderíamos até dizer descartável, usado duas ou três vezes e jogado fora.
Por isto não faz mais sentido guardá-lo.
Isso nos obrigará a repensar e a gerar novo conhecimento, porque provavelmente o futuro precisará de soluções nunca vistas.
Por isto adoro Escolas de Administração, onde não há Teorias, temos poucos Keynes, Karl Marx, Adam Smith.
Adoramos estudos de Casos, coisas novas, não passadas.
O importante é vocês aprenderem a criar conhecimento, e não somente a usar o conhecimento do passado.
Eu utilizo o termo administrativo “conhecimento just in time”.
Vocês terão muitos problemas a resolver, e terão de saber como analisá-los, gerando uma solução ou “conhecimento” apropriado, que não necessariamente servirá para o resto da vida.
Daqui a alguns anos, a situação será outra, requerendo nova análise e solução.
Que algumas coisas são perenes, como 2 + 2 = 4 e muitas leis da física, não há a menor dúvida.
Mas o que estou sugerindo é que vocês tomem o cuidado de sempre questionar seus professores, para se certificar de que o conhecimento do passado será de fato útil no futuro.
Max Weber, Keynes e Freud escreveriam a mesma coisa se estivessem vivos hoje?
É isso que vocês precisam descobrir.
Até pode ser que sim, mas é melhor desconfiar sempre.
O que eu peço a vocês é que se concentrem em como gerar conhecimento.
Como observar, como identificar variáveis relevantes, os personagens vitais do problema e os interesses.
Como analisar alternativas e tomar decisões.
Usei muito pouco das teorias que me ensinaram na faculdade.
Meu sucesso profissional foi devido muito mais ao conhecimento que eu próprio gerei, que eu mesmo criei, do que às teorias e técnicas que mal me ensinaram.
A “faculdade” que vocês precisam adquirir é a da criação, da criatividade, da geração de conhecimento, e não a da erudição, do academicismo ou a da decoreba que se alastra pelo país.
Infelizmente, vocês terão de agradar aos dois primeiros tipos de professor repetindo o passado que eles querem ouvir, senão não serão aprovados.
Saibam distinguir quem é quem, e boa sorte!
Originalmente publicado na Revista Veja, 21 de fevereiro de 2007 página 18