Leitura super recomendada. Texto muito claro, apropriadíssimo, apesar ser um pouquinho longo.
Por Flavia Gamonar
Com alguma frequência eu busco abordar em meus artigos a necessidade de nos reinventarmos como profissionais o tempo todo, de pensar diferente, de inovar.
Em alguns momentos eu leio comentários como “Mas, Flavia, como fazer com que a empresa, os chefes e os recrutadores pensem diferente?”. Eu respondo dizendo que o caminho é o mesmo para os dois lados: primeiro refletir sobre como fazemos tudo igual a tanto tempo e, em segundo lugar, buscar compreender como pequenas mudanças no dia a dia podem, aos poucos, levar a processos e resultados diferentes.
Lutando contra a resistência e os modelos antigos
Há lugares em que a tradição é arraigada e a resistência muito maior. Enquanto há outros que em alguns detalhes já se vê mudanças: uma entrevista feito pelo skype, a permissão de trabalhar de bermuda em uma cidade quente, home-office começando a pegar discretamente. Mas ainda temos muito a evoluir e se você parar pra pensar vai perceber que esse estar arraigado ao modelo velho é mais frequente do que imaginamos.
Já escrevi sobre o fato de o curriculum vitae não significar mais apenas entregar um documento digital ou impresso, você pode ir além e os recrutadores também estão indo além. Com o surgimento de novos modelos de trabalho indaguei sobre até quando o padrão será trabalhar das 8 às 18h a necessidade de quebrarmos paradigmas.
Em a morte dos shoppings, o fim do Facebook e o futuro criado pelos milennials citei estudos que mostram as mudanças do mercado, o impacto das novas gerações e os usos de mídias sociais. Em o futuro do jornalismo pode estar na produção ressaltei que algumas profissões continuam, mas mudam seu foco em alguns casos, como temos visto no jornalismo.
Em growth hacker, pilotos de drones e profissões que ainda não foram inventadas elenquei profissões que existiram e não existem mais e as novas profissões que jamais imaginamos que surgiriam. Em vida on-demand: Tripda, Airbnb, EatWith e a economia compartilhada contei como novos serviços, que não possuem estoque ou conteúdo estão balançando o mercado e ameaçando quem estava consolidado.
São artigos que o ajudarão a entender o que está acontecendo no mercado.
A escola também precisa se atualizar
A própria escola ainda é baseada em um modelo que existe há décadas, alunos sentados um atrás do outro e o professor em pé, ao centro. Disciplinas que em sua maioria não preparam para empreender, para entender sobre negócios, política, alimentação saudável. E os próprios cursos universitários ainda se baseiam nos tradicionais cursos que conhecemos há anos, mas a verdade é que já estão e vão continuar surgindo profissões tão novas, que nenhum curso específico vai conseguir preparar o profissional.
Até quem busca atualização hoje em dia encontra dificuldades mesmo se optar por um MBA, porque nem sempre eles estão atualizando com o extremo dinamismo do mercado.
Dependendo da área com a qual você trabalha, as atualizações podem ser maiores ou menores. No marketing, por exemplo, se você ficar off-line um dia sente que já perdeu muita coisa. Um meme pode ter sentido apenas naquele dia e a quantidade de ferramentas e novos processos é gigantesca, o que significa que esse profissional tem um enorme desafio para manter-se atualizado.
Afinal, reinventar-se como?
Há algumas décadas quando um profissional se formava em uma área ele já tinha conhecimento de tudo que precisaria para trabalhar por quase toda sua carreira e as novidades e atualizações demoravam anos a chegar.
A taxa de obsolescência na década de 60 era de 1/2 para cada 20 anos (O Homem e a ciência de C. H. Waddington), ou seja, o profissional só ficaria 50% obsoleto se ficasse sem se atualizar por 20 anos. A partir dai a taxa de obsolescência começou a aumentar e depois dos anos 2000 o ritmo da inovação aumentou drasticamente, setores como a informática, as telecomunicações, a microeletrônica e a nanotecnologia, as inovações tecnológicas dobram a cada dois anos, o que significa que mesmo aquele profissional que se atualiza, já estaria obsoleto.
Quando falo sobre se atualizar não se trata de apenas matricular-se em um curso, mas de ir atrás da inovação de diversas formas. Primeiro reinventando a si mesmo, deixando preconceitos de lado, quebrando paradigmas e se permitindo, parando de julgar.
O mundo mudou, as gerações mais recentes são extremamente diferentes da nossa, novas tecnologias surgem todos os dias e criticar o novo sem antes permitir-se não combina com o cenário que estamos vivendo.
Em segundo lugar é entender que temos tanta informação disponível, cursos, palestras, livros que podem ser baixados de graça ou a um custo mínimo e que tudo isso em conjunto vai trazer bagagem. Esse conhecimento que você mesmo vai atrás muitas vezes vale mais do que o hábito de matricular-se em um curso regular ou pós e assistir aulas daquele velho modo automático, às vezes dormindo na carteira, faltando ou desejando que acabe logo.
Quando você lê vários livros consegue ter repertório e tem referências e embasamento para construir suas reflexões e estratégias. E até para escrever bem e de forma densa, sem achologias, é indispensável ler. Para discordar ou concordar, para conectar ideias, para chegar à sua própria conclusão é preciso estar aberto e atualizado.
AT& T investe pesado em atualização de funcionários
Na AT & T, gigante de telecomunicações, a palavra de ordem para os funcionários é se adaptar. A concorrência com a Verizon, a Sprint, o Google e Amazon é enorme e eles estão trabalhando de forma agressiva para garantir que seus funcionários fiquem à frente das mudanças nas tecnologias.
Ai a gente escuta alguns gestores afirmando que investir em funcionário é ruim, porque depois ele vai embora do negócio. Mas e se você não investir, o que acontece com o seu negócio? Por um lado as empresas precisam investir em treinamentos e atualizações, mas por outro é o perfil do profissional que faz a diferença, se ele for um acomodado, mesmo que paguem um curso para ele não vai adiantar nada. Eu acredito que o que buscamos, porque queremos mesmo estudar, é o que realmente vamos aprender.
Ainda falando de AT & T, o CEO Stephenson diz que quem não passar de cinco a dez horas por semana estudando e se atualizando vai se tornar obsoleto e que é necessário reequipar a si mesmo, não esperar que chegue ao ponto de te pedirem por isso. Por lá, lançaram um programa de educação corporativa ambicioso para seus funcionários com o objetivo de entender dados gerados por seus produtos. A Udacity, uma startup de aprendizagem on-line, se uniu a eles e oferece um programa de mestrado em conjunto com Georgia Institute of Technology.
O programa de dois anos tem vários inscrito a partir de AT & T já, de acordo com o New York Times. Para obter mais pessoas envolvidas, a empresa de telecomunicações também tem um painel de controle para que seus funcionários possam ver os caminhos de carreira na empresa e os cursos adequados para eles. A AT & T vai reembolsar empregados em até US $ 8.000 para a taxa de matrícula e mais da metade da sua força de trabalho começou treinamento on-line, seja através Udacity ou outros cursos on-line.
O chefe de RH acredita que é a maneira de manter-se e que nesse processo as pessoas vão ter que trabalhar duro, mas que não é nada insano.
O cartão roxo que está tirando o sono dos bancos
O Nubank, uma instituição de pagamentos aos olhos do Banco Central, é uma startup que oferece um cartão de crédito MasterCard Platinum internacional e que não cobra anuidade, tarifas e ainda oferece taxas de juros muito menores do que os cartões tradicionais: praticamente metade. Aproximadamente mais de 500 mil pessoas já pediram o cartão — o mesmo número de brasileiros que já baixaram o Uber — e que existem mais 100 mil na lista de espera, ou seja, outro diferencial, como é o cliente quem vai atrás do cartão, o custo de aquisição é baixíssimo. O fato de não ter rede física ou agência também garante custos operacionais bem baixos.
Mas não para por ai, o marketing e o atendimento deles é incrível e com frequência usuários postam como foram impactados pela Nubank. Um deles entrou em contato pelo app para reclamar de uma compra debitada duas vezes, além de ser atendido on-line e rapidamente, o atendente em um tom informal ainda brincou sobre o lanche que o cliente havia comido. E alguns dias depois chegou uma caixa com uma sanduicheira roxa como brinde, para que ele mesmo pudesse preparar seus lanches por ai e ainda acompanhava uma carta escrita a mão!
Percebendo que estão perdendo mercado e que assim como o Uber mostrou-se uma ameaça aos taxistas o Nubank tinha uma potencial de promover uma reviravolta, a Visa anunciou em fevereiro o programa Visa Developer,com o objetivo de impulsionar a inovação em pagamentos. Assim, pela primeira vez na história em quase 60 anos de empresa, os desenvolvedores de aplicativos terão acesso aos códigos da Visa para criar soluções.
Segundo a empresa, a nova plataforma vai ajudar as instituições financeiras, comerciantes e empresas de tecnologia a satisfazer as exigências dos consumidores, que dependem cada vez mais de dispositivos conectados para fazer compras, pagar e receber pagamentos.
Essa novidade mostra, no mínimo, uma preocupação em não ficar para trás. Mas por que é preciso que alguém chegue com algo tão inovador para que as empresas percebam que precisam se modernizar?
FOBO: é o nome do medo de ficar obsoleto
O estudo “O Futuro dos Empregos” revelou que cinco milhões de postos de trabalho podem ser fechados nos próximos cinco anos nos 15 países com as maiores economias do planeta – entre eles o Brasil. Essa transformação pode ainda não ter chegado com força, mas é temida por executivos e tem nome: FOBO, fear of becoming obsolete, ou medo de se tornar obsoleto.
A pesquisa global “Barômetro da Inovação”, realizada pela GE, levantou que 90% dos executivos e formadores de opinião entrevistados disseram que as empresas mais inovadoras não apenas lançam novos produtos e serviços como também criam mercados que não existiam.
Um estudo publicado recentemente pela MIT Technology Review , dos Estados Unidos, mostra que, nos próximos anos, muitos empregos deverão ser aos poucos substituídos por máquinas inteligentes. O trabalho será menos repetitivo e mecânico, porque equipamentos e programas de computador poderão substituir humanos em tarefas intelectuais.
Existirão mais oportunidades criativas, que não podem ser desempenhadas por máquinas e que envolverão pensamento inovador, flexibilidade, criatividade e habilidades sociais.
Preocupação com os mais velhos que continua na ativa levarão a pensar novos produtos, com telas e letras maiores, por exemplo.
Novas formas de trabalho e remuneração continuarão aparecendo e iniciativas como Uber e Airbnb serão frequentes. Possibilidade de trabalho remoto ou home-office vão crescer e os freelances e autonômos vão ganhar espaço. Percebe que o futuro é ter um trabalho, não necessariamente um emprego? Que os muros dos moldes atuais serão quebrados e que você mesmo será o responsável por se atualizar?
Dicas para manter-se atualizado
- Peça feedback para pessoas nas quais você confia e reflita sobre pontos levantados que devem ser considerados para sua atualização;
- Leia bastante, livros físicos, digitais, perfis ou influenciadores no LinkedIn, Twitter, Youtube, Facebook, sobre temas que o interessam e também visões diferentes da sua. O autor do livroLearning as a Way of Being: Strategies for Survival in a World of Permanent White Water, de Peter B. Vail diz que na era contemporânea ninguém consegue aprender tudo nos bancos da escola, porque os eventos são novos e que a arte é usar o conhecimento disponível e aplicá-lo na situação corrente.
- Conheça novas tecnologias, teorias e ferramentas, em sua área de atuação sempre existem novidades e muitos aplicativos e serviços são gratuitos;
- Participe de palestras, conferências e congressos, fortifique seu networking;
- Se tiver oportunidade, não pare de estudar, busque novos cursos, presenciais ou a distância, pagos ou gratuitos;
- Se você é de RH ou gestor, busque levar para a empresa cursos e palestras para os colaboradores;
- Ao estudar um assunto vá anotando termos desconhecidos que aparecem e em seguida busque informação sobre eles;
- Confira 10 sites para fazer cursos a distância que separei pra você
Flavia Gamonar
Professora Mestra em Mídia e Tecnologia pela Unesp de Bauru atuando como professora universitária e gerente de marketing. Especialista em marketing de conteúdo e pesquisadora apaixonada sobre tendências digitais, marketing, mídias sociais, inovação e empreendedorismo.
Ministra cursos, palestras e consultorias.