Nenhum outro personagem do cinema ou televisão é tão eficaz quanto Jack Bauer. O que temos a aprender com ele?
Por Leandro Vieira
Em apenas um dia, Jack Bauer consegue salvar os Estados Unidos de ataques terroristas – não apenas uma, mas diversas vezes, evita atentados à vida do presidente, identifica traidores, interroga suspeitos, invade embaixadas, foge de prisões, infiltra-se em grupos inimigos e, no fim de 24 horas, consegue dar conta de todos os desafios. Nenhum outro personagem do cinema ou televisão é tão eficaz quanto Jack Bauer.
Peter Drucker foi, sem dúvidas, o pensador que mais bateu na tecla sobre a importância da eficácia. Segundo o pai da administração moderna, eficácia significa fazer as coisas acontecerem. Só isso? Exatamente. Parece simples, mas poucos são os profissionais que realmente têm a capacidade de fazer o que tem que ser feito e entregar resultados satisfatórios. A boa notícia é que a eficácia é um hábito que podemos adquirir como adquirimos qualquer outro hábito, ou seja: a partir da prática.
Drucker aponta cinco práticas essenciais para qualquer pessoa se tornar um profissional eficaz. Vamos ver como Jack Bauer lida com cada uma delas?
– Gerenciar o tempo – O tempo é um recurso limitante e totalmente irrecuperável. “Se você não souber gerenciar o seu tempo, não poderá gerenciar coisa alguma”, diria o professor Drucker. Em 24 Horas, o relógio corre literalmente contra Jack Bauer, o que faz da gestão do tempo uma questão de vida ou morte para o agente da CTU.
– Esforçar-se para dar contribuições – O foco na contribuição é a chave da eficácia. Significa transferir a atenção do profissional de sua própria função, de sua especialidade específica, para o desempenho da empresa como um todo. Drucker recomenda que se faça sempre a seguinte reflexão: “que tipo de contribuição posso oferecer que afetará de forma significativa o desempenho e os resultados da empresa em que trabalho?”. Bauer tem uma clara noção do todo. O personagem nunca se esquiva de uma missão importante com a desculpa de que “isso não faz parte do meu trabalho, não sou pago para isso”.
– Tornar produtivos os pontos fortes da organização – Nada se constrói sobre a fraqueza e, para conseguir resultados, devemos usar todas as forças disponíveis – a dos colegas, a dos superiores e a nossa própria. O executivo eficaz não toma decisões sobre pessoal para diminuir fraquezas, e sim para aumentar a força da empresa. Nesse ponto, o personagem de Jack Bauer encarna o verdadeiro gerente eficaz de Drucker. Bauer costuma tomar a frente das operações, faz questão de trabalhar apenas com os seus melhores colegas (e respeita e reconhece as competências de cada um), questiona e influencia a ordem de seus superiores – o que inclui até mesmo o presidente dos Estados Unidos! – e, por fim, tem consciência de seus próprios pontos fortes e os coloca totalmente à serviço da “organização” (no caso, a CTU e os EUA).
– Concentrar seus esforços nas tarefas mais importantes para atingir resultados – Um dos segredos da eficácia reside na concentração dos esforços. Primeiro o mais importante. Devemos saber lidar com a realidade de que sempre há mais coisas a fazer do que tempo disponível para realizá-las. Para sermos eficazes, devemos saber estabelecer prioridades e, também, posterioridades – aquelas tarefas que adiamos ou até mesmo abandonamos. Jack Bauer é um mestre nessa prática. Uma das 24 frases mais ditas em todas as temporadas da série é justamente “I don’t have time for this!” (“não tenho tempo para isso!”). Bauer, inclusive, costuma passar por cima de algumas normas e regras burocráticas que podem travar e comprometer o cumprimento de suas missões (um alerta: não tente fazer isso na sua organização!).
– Tomar decisões eficazes – Drucker observa que a decisão certa exige tanto análise quanto coragem. Cada decisão é um julgamento de risco: é um comprometimento de recursos presentes com um futuro incerto e desconhecido. Se o processo de tomada de decisão for cuidadosamente observado e as medidas necessárias forem tomadas, diminui-se o risco e aumenta-se a chance da decisão ser bem-sucedida. Todas as decisões de Bauer são extremamente difíceis e arriscadas, mas o personagem tem consciência de sua importância e não sucumbe com o peso de seu fardo – e não se exime de tomá-las, mesmo que tenha que arcar com severas consequências posteriormente.
“A eficácia dos gerentes é a nossa maior esperança para tornar a sociedade moderna economicamente produtiva e socialmente viável”. Peter Drucker
Antes que atirem a primeira pedra, quero deixar claro que devemos guardar as devidas proporções nessa comparação. Jack Bauer é um personagem fictício de uma (viciante) série de televisão. Seus fins sempre justificam seus meios nada ortodoxos. As situações impostas pelos roteiristas sempre colocam Jack entre a cruz e a espada com dilemas morais e éticos complexos do tipo “justifica-se torturar alguém para obter uma informação capaz de salvar milhares de pessoas?”. Gostaria que o leitor, sinceramente, não tomasse esse exemplos para condenar o pobre Jack Bauer e esse seu humilde fã que vos escreve. É importante lembrar que Jack Bauer jamais saiu aplaudido ao final das 24 horas. Pelo contrário, no último episódio seus problemas sempre recomeçam… tic-tac, tic-tac, tic-tac.